Depois que ela se foi, tudo se foi com ela. Somente restou esse silêncio abissal. Nenhuma música de rock. Sequer uma balada. Nem passadas rápidas, correndo para cá e para lá. A cama vazia atesta a ausência. A mesa sem os cadernos espalhados, sem o molho de chaves, Nenhum tênis jogado no chão do quarto.
O suave perfume da juventude se desprendeu dos lençóis. E o doce aroma dos cabelos não mais flutua no ar. A delicada figura não corre, não ri, não pula mais no corredor. Não dança e não caminha pela sala. Sem ela, a casa é inodora, insípida e incolor. Mas não é indolor. Dói a solidão dos objetos antes por ela tocados. A vida ausente. Sem revoluções.
O telefone está mudo desde então. Sumiram as amiguinhas com suas risadas, os compromissos. O som de passadas nos saltos das botas de verniz. Todo aquele exército de amigas e inimigas. O repertório das brincadeiras. Ficou esse tempo pós-tudo e era preciso aprender a voar com as próprias asas. Quem não sabe? As circunstâncias são outras.
Depois que ela se foi, os seus olhos claros e oblíquos me fitam das fotografias espalhadas pela casa. O sorriso cristalizado nos dentes perfeitos. Simulacros da meiga presença. Presente mesmo só o gatinho, de olhinhos também simétricos. E obliquamente felinos. Obliquidades semelhantes. Ternas e adocicadas.
As roupas rejeitadas e esquecidas no guarda-roupa já começam a ganhar aquele denso cheiro de mofo. Na estante, livros repousam desalinhados e distraídos. Entretanto, a atmosfera do quarto segue alegre. O palhaçinho sorridente continua pendurado no trapézio. Os enfeites da Índia, as almofadas chinesas, o quadrinho de mangá: tudo no lugar. E a caixinha de música abriga e protege a eterna canção.
Depois que ela se foi, todas as bonecas e os vestidinhos foram cuidados. Estão comoventes de tão lindas! E guardadas zelosamente nas caixas. Uma espécie de carinho secreto. Gestos estranhos acontecem nesse vazio. Como seria a conversa com novas meninas em flor? Não existe uma receita. O momento passa e elas seguem risonhas e descontraídas pelas ruas. Tudo continua. É bom que seja assim.
Estranhamente, algo que partiu resolveu voltar. As palavras eram minhas jóias. Mas há anos atrás, soberanas e ciumentas impuseram a sua exclusividade. A Arte não divide afetos. E levou consigo o seu séquito avalassador.
Ressurgiram assim: só depois que ela se foi.
O suave perfume da juventude se desprendeu dos lençóis. E o doce aroma dos cabelos não mais flutua no ar. A delicada figura não corre, não ri, não pula mais no corredor. Não dança e não caminha pela sala. Sem ela, a casa é inodora, insípida e incolor. Mas não é indolor. Dói a solidão dos objetos antes por ela tocados. A vida ausente. Sem revoluções.
O telefone está mudo desde então. Sumiram as amiguinhas com suas risadas, os compromissos. O som de passadas nos saltos das botas de verniz. Todo aquele exército de amigas e inimigas. O repertório das brincadeiras. Ficou esse tempo pós-tudo e era preciso aprender a voar com as próprias asas. Quem não sabe? As circunstâncias são outras.
Depois que ela se foi, os seus olhos claros e oblíquos me fitam das fotografias espalhadas pela casa. O sorriso cristalizado nos dentes perfeitos. Simulacros da meiga presença. Presente mesmo só o gatinho, de olhinhos também simétricos. E obliquamente felinos. Obliquidades semelhantes. Ternas e adocicadas.
As roupas rejeitadas e esquecidas no guarda-roupa já começam a ganhar aquele denso cheiro de mofo. Na estante, livros repousam desalinhados e distraídos. Entretanto, a atmosfera do quarto segue alegre. O palhaçinho sorridente continua pendurado no trapézio. Os enfeites da Índia, as almofadas chinesas, o quadrinho de mangá: tudo no lugar. E a caixinha de música abriga e protege a eterna canção.
Depois que ela se foi, todas as bonecas e os vestidinhos foram cuidados. Estão comoventes de tão lindas! E guardadas zelosamente nas caixas. Uma espécie de carinho secreto. Gestos estranhos acontecem nesse vazio. Como seria a conversa com novas meninas em flor? Não existe uma receita. O momento passa e elas seguem risonhas e descontraídas pelas ruas. Tudo continua. É bom que seja assim.
Estranhamente, algo que partiu resolveu voltar. As palavras eram minhas jóias. Mas há anos atrás, soberanas e ciumentas impuseram a sua exclusividade. A Arte não divide afetos. E levou consigo o seu séquito avalassador.
Ressurgiram assim: só depois que ela se foi.
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