quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Homem das Panelas


 

                   O meu mundo ficou diferente depois do homem das panelas. Como uma referência de sólida felicidade. Vez ou outra ainda relembro as batidinhas na janela do sindicato. Nessa viela funcionava uma entidade que abrangia várias categorias e, naquele exato momento, três ou quatro moças aguardavam para serem atendidas pelo advogado, quando ouvi alguém chamando lá fora.
Era um sorridente homem de terno. Estava limpo, bem arrumado e não me pareceu um mendigo. Era moreno, expansivo e alegre. E com um rápido aceno me explicou: ele tinha tudo, fez questão de justificar antes de pedir, só lhe faltava umas panelas! Havia tanta vida e tanto brilho no olhar daquele homem! Ele ergueu as mãos e os olhos para o céu, completamente extasiado, enquanto dizia isso. Foi impressionante aquele arrebatamento, aquelas cintilações de pura energia e felicidade no seu rosto.

                    Se eu tinha panelas para doar? Não tinha. Mas lancei mão de umas três panelas da cozinha e esse homem era todo contentamento e certezas quando as colocou debaixo dos braços cheio de efusão. E, todo pleno, partiu. Antes, agradeceu e seguiu ruela abaixo com o seu tesouro final. Segui a sua imagem. Foi caminhando ternamente abraçado com as panelas até sumir ao cair daquela tarde.
As moças riram divertidamente na sala de espera. Umas delas comentou o meu exagero: havia fornecido panelas demais! A mais engraçada e que se mantinha de braços cruzados e as mãos repousadas sobre colo, comentou: agora ele tem tudo, se só precisava de panelas. Nossa! Filosofou às gargalhadas quanta coisa necessitava! Muito mais. Outros sonhos de consumo. Panelas? Jamais!
Era misteriosa e inexplicável a força catalisadora do homem das panelas. O homem que tinha tudo! E nós rimos conjuntamente em homenagem a ele, à sua felicidade terrena que nos contagiou. Felizes e felizes. Nada menos e nada mais.
E a verdade singela era tão enternecedora. Jamais alguém havia dito tão enfaticamente: eu tenho tudo! Foi comovente presenciar aquele momento de profunda felicidade de um ser humano tão completo em si mesmo. Os seus olhos cintilaram com o mesmo brilho da pureza de diamantes. Nunca mais revi o homem das panelas. O homem que tinha tudo. Como um anônimo Carlitos, desapareceu

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