quinta-feira, 28 de junho de 2012

O Blog do Max


      
         
            Max me fita sério e solene com seus olhos verdes e nublados de sono. Escrevi dúzias e dúzias de e-mails sobre esse gato. O pessoal simplesmente adorava. Todos pediam o “Blog do Max”: sucesso total as travessuras do felídeo. De certo modo, desse estranhamento com o bicho foram nascendo pedidos de conselhos e esclarecimentos sobre a conduta animal.

            Não tenho lá modos muito civilizados. Quando chegou a nossa casa, minha natureza irascível bateu de frente com a irracionalidade do Maximinho. Três exatos dias para aceitar essa convivência forçada. Um em relação ao outro. Finalmente, no terceiro dia, colocou a patinha no dedão do meu pé. Estava selada a nossa amizade. A verdadeira dona do bicho respirou aliviada porque precisou deixar o gato aqui este ano e estava temerosa da adaptação do Máximo Gorki. Como pode perceber o leitor, esse bichano tem um nome de alto prestígio literário.

             De início, Max sempre me pareceu aquele gato listrado do desenho “Alice no País das Maravilhas”. Ora em cima do microondas, ora em cima da geladeira. Ou repousado sobre o laptop, ou atrás das cortinas. Como não se apaixonar pelo gatinho? Após infinitas emboscadas, botes, e números acrobáticos, percebi o objetivo dele. Tanto preparo diário com vistas a abocanhar um dia, algum passarinho distraído. Um troféu de caça. Esse é o sonho máximo do Máximo Gorki.

             Enquanto vivo, Max sonha com impossíveis pássaros ( que não pousam diante dele jamais). E por meu lado, sonho com palavras aladas e inatingíveis. Fugidias e erráticas. E a reflexão tomou o lugar da palavra escrita. Tantas coisas parecem profundamente tolas, mas se enraizaram no ser humano sob a forma de hábitos nefastos e alienantes.

            Mas, voltando ao tema, nunca aproveitei os e-mails escritos sobre o Max para transformá-los em blog. Fiquei observando esse instinto primitivo de demarcar território, o treino para as caçadas. As leis da sobrevivência. Infelizmente, o ser humano mata e morre por territórios. E homens caçam homens há séculos! Pelos mais variados motivos.

            Do desencanto com esse imutável estágio da existência humana , nasceu o meu carinho por este felino. Ele faz parte das três coisas mais delicadas que a vida me presenteou recentemente. Apesar de tudo, a delicadeza se faz presente todos os dias em nossas vidas. É só educar o olhar.

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